Inside News #05 - Até onde a beleza dita nossas emoções?
Um ensaio (quase desabafo) sobre a indústria e sua não-tão-nova tentativa de nos fazer sentir humanos; ou seria o contrário?
Tempo de Leitura: 8 minutos
Nas edições anteriores:
#2 Um mergulho no mês da folia, glitter e conexão
#3 SXSW 2025: insights de beleza do maior festival de inovação do mundo
#4 Corpos reais no Brasil floparam?
Oi, como estão? Bem-vindos a mais uma edição da Inside News!
⚲ Por onde estou: Ainda em São Paulo, acompanhando uma maratona de eventos que dizem muito sobre o momento do bem-estar no Brasil: da Jornada Científica do Lapinha SPA, um encontro que trará insights sobre os avanços da ciência e as melhores práticas para um estilo de vida saudável, às feiras que vêm por aí como o Gramado Summit, a FCE Cosmetique e a Natural Tech. Entre uma agenda e outra, ainda deu tempo de encaixar o encontro Bem-estar Sustentável comandado por André Carvalhal e Ciça Campos.
📽 O que estou lendo: O poder do pijama rosa, de Nathalia Beauty, e Dia de Beauté, da Vic Ceridono. Dois livros muito diferentes, mas que ajudam a entender como a beleza no Brasil é feita de camadas, contrastes e narrativas.
🧾 O que estou assistindo: Deixa na Régua, no Prime. Um documentário sobre barbearias no subúrbio do Rio.
Quando foi que a beleza passou a prometer sentimento?
Outro dia, me deparei com um produto chamado GlowCytocin, um neurocosmético que promete copiar a sensação de estar apaixonado. Isso mesmo: um creme que entrega paixão em forma de glow. E não, ele não é o único.
Na verdade, já faz tempo que ouvimos falar de uma nova geração de cremes, perfumes, séruns e tantos outros produtos que prometem mais do que resultados estéticos: prometem felicidade, conforto, estabilidade emocional e até uma sensação de bem-estar. Com a proximidade do Dia dos Namorados, resolvi trazer esse tema para cá, porque me peguei refletindo sobre como essa nova fase do movimento dos neurocosméticos está, na prática, vendendo uma espécie de biohacking do afeto.
Estamos vivendo um momento em que beleza não é mais só estética, é emoção, performance e até conforto químico. Será que os produtos de beleza também vão passar a escolher nossas emoções por nós?
Os neurocosméticos, que se vendem como atalho para o bem-estar, defendem a ideia de que o conforto emocional pode acompanhar a rotina de skincare, dentro da sua nécessaire.
A lógica dos “neuroprodutos” se mistura ao discurso da saúde mental para entregar um novo tipo de consumo: um ritual de emoções aplicados à pele.
Skincare = braincare?
Não é de hoje que se fala da relação entre mente e pele. O que muda agora é justamente o tom da promessa: não se trata mais dos efeitos do emocional na pele, mas sim sobre transformar o emocional via pele.
O lançamento do “Emotional Support Lip Balm”, da Personal Day, é um exemplo do que já anda rolando por aí. Ok, esse poderia ser só mais um lip balm para termos na bolsa, mas quando investigamos a história e o propósito da marca, criada pela atriz Lili Reinhart que, desde os 12 anos enfrenta problemas com acnes, o produto passa a ser mais interessante.
Quem convive com a acne e faz tratamentos para cuidar da pele, sabe que o ressecamento dos lábios é um efeito colateral bem comum. Nessas horas, o hidratante labial deixa de ser só um item de beleza; ele se torna um apoio emocional no formato de lipstick.
Ao assistir a palestra “How Your Brain Affects Your Skin" (conduzida por Rachelle Seguin, criadora do Omy Laboratories, e pela dermatologista Emilie Fowle) no SXSW de 2025, um dado me chamou atenção: pacientes adolescentes com acne tem 63% mais chance de desenvolverem depressão.
Ter produtos que enxerguem como nossa pele é mais do que uma vitrine, é um espelho das nossas emoções, é muito importante. Segundo a revista Clinical Dermatology, a pele não é só um órgão de barreira: é também um sistema neuroendócrino periférico, com receptores e produção local de serotonina, dopamina, endorfinas. Tudo isso ligado ao sistema nervoso central numa via de mão dupla chamada de eixo pele–cérebro. E é exatamente aí que os neurocosméticos atuam.
Ingrediente secreto: responsabilidade social
Se emoção virou ingrediente e bem-estar virou promessa de fórmula, como as marcas devem se posicionar? A resposta começa quase sempre com a mesma palavra: responsabilidade.
O avanço dos neurocosméticos não é só técnico, é também simbólico. Estamos falando de produtos que não atuam apenas na estética, mas que imitam afetos, percepções e vulnerabilidades. Nesse cenário, cuidar da pele não é mais só sobre sensorialidade: é sobre saúde mental, confiança, autoimagem. E isso exige consciência.
Consciência e responsabilidade, inclusive, que não devem nos conduzir para o outro extremo, o da positividade tóxica. Entre cremes, body lotions, make ups, perfumes, nail-skin-e-outros-produtos-care que nos prometem paz, amor e felicidade, não podemos deixar de valorizar aquilo que nos torna humanos: a vulnerabilidade das emoções.
E se pararmos pra pensar, é essa a premissa do tal GlowCytocin, produto que falamos no começo do texto. Para sentir os efeitos da paixão, você não precisa correr o risco de se apaixonar e não ser correspondido… basta desembolsar alguns dólares.
A promessa de sentir, sem o risco, sem a exposição, sem o vínculo, é sedutora. Mas também perigosa. Quem nunca, por exemplo, se pegou desabafando com o ChatGPT e se sentindo incrivelmente bem?
Em um momento em que tudo pode ser produzido em laboratório e aplicado topicamente, a gente corre o risco de transformar afeto em produto. A beleza vira anestesia e a emoção, algoritmo.
Seguindo essa lógica, a era da cosmética emocional pede um novo pacto ético.
Não basta prometer conforto, é preciso entender de onde vem o desconforto.
E isso envolve refletir sobre algumas questões importantes:
Quem é o consumidor emocionalmente vulnerável?
Quais emoções estão sendo moduladas e por quê?
O que significa criar desejo em cima de estados psíquicos?
Estamos oferecendo alívio real ou distração temporária?
É hora de equilibrar inovação com cuidado, marketing com escuta, e ciência com transparência. Isso significa não apenas investir em ingredientes com evidência clínica, mas também em narrativas que não explorem dor emocional como diferencial de venda.
Criar produtos que não silenciem, mas que revelem
Num mundo ansioso, o maior luxo pode ser o silêncio. O maior diferencial, a honestidade. Em vez de vender uma solução emocional, que tal oferecer um espaço de pausa?
Talvez o futuro da beleza emocional não esteja nas promessas grandiosas, mas sim na curadoria ética da experiência sensorial. E isso exige algo raro: tempo, pesquisa e coragem para não seguir só a tendência, mas o que faz sentido.
Para Mark Zuckerberg, no futuro, a maioria dos nossos amigos será IA.
Sim, o Ozempic não altera apenas o apetite, mas o tipo de comida que a gente gosta.
Suplemento em cápsula é coisa do passado. Pasta de dente, pipoca e até chiclete no lugar.
Já baixou o Beauty Report da Inside Beauty? São os principais movimentos do consumidor brasileiro para inspirar 2025 e 2026 — direto, gratuito e transformador.
Na edição de hoje entendemos que emoção não é só um ingrediente. É território. E todo território precisa de escuta, coragem e presença pra ser mapeado.
Na Inside Beauty, é isso que a gente faz: atravessa as tendências para entender o que realmente toca o consumidor. Porque beleza emocional não se cria no impulso, e sim na intenção.
Se quiser caminhar por esse território com mais profundidade, a gente tá aqui.
Com análise, sensibilidade e estratégia.
Até a próxima edição :)
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