Inside News #04
Corpos reais no Brasil floparam? A diversidade, a beleza e as contradições do nosso país.
Tempo de Leitura: 8 minutos
Nas edições anteriores:
#1 Muito prazer, com tudo que o mercado de beleza promete neste 2025
#2 Um mergulho no mês da folia, glitter e conexão
#3 SXSW 2025: insights de beleza do maior festival de inovação do mundo
Oie, como estão? Bem-vindos a mais uma edição da Inside News!
⚲ Por onde estou: Oficialmente, de volta ao Brasil. Depois de semanas em ponte aérea, é tão bom estar em casa. Orgulhosa de tudo que foi feito nesse primeiro trimestre do ano.
📽 O que estou assistindo: Cheguei atrasada, mas finalmente me rendi à Beleza Fatal e não me arrependo. Série, aliás, que se tornou um dos pilares para a reflexão sobre a relação entre beleza e Brasil, que molda essa edição.
🧾 O que estou lendo: É sempre preciso voltar ao passado para entender o presente e, assim, pensar sobre o futuro. O livro História da Beleza no Brasil está sendo um mergulho mais que necessário. Recomendo!
O corpo brasileiro: palco ou batalha?
Demorei, mas me rendi. A telenovela, em formato de série, Beleza Fatal, já estava na minha lista há semanas, mas a rotina de feiras e viagens não me deixava parar - além da trama não estar disponível no catálogo da Max na Europa, só na América, então, impossível. A história, que tem formato, gosto e cheiro de Brasil, foi o ponto de partida para uma reflexão que muito se pensa, mas pouco ainda se fala: afinal, qual a relação do Brasil com a beleza? Como, de fato, enxergamos nossos corpos?
A verdade é que a beleza e o corpo, na cultura brasileira, são palco e protagonista. Mas essa centralidade vem também carregada de contradições profundas e de discussões que, antes pareciam cruciais, e que hoje de alguma forma perdem espaço e visibilidade - o que é uma pena.
Se por um lado o corpo é celebrado por aqui, nas praias, nos carnavais, na mídia, por outro, é também vigiado, julgado, moldado.
Há 20 anos, a Dove dizia que era hora de aceitar os corpos reais. Quem não se lembra da campanha, linda e emocionante, que foi vista como disruptiva para a época? Pois é, a gente não só acreditou que indústria iria se educar, como também que a publicidade fosse mudar e que o espelho iria pesar menos.
Duas décadas depois, estamos falando sobre Ozempic em toda roda de conversa. Vendo celebridades emagrecerem em tempo recorde para caber em vestidos históricos. E ouvindo falas como a de Maya Massafera, dizendo que “rico gosta de magreza, e pobre de corpos gordos”. Sem comentar sobre a trend “magras, magras, magras” no TikTok.
O corpo voltou a ser pauta. Mas dessa vez, com uma urgência ainda mais cruel: a do controle, da comparação e da medicalização.
Aceitação não é só estética, é construção simbólica
Aceitar o corpo não é um processo individual. É coletivo, histórico e atravessado por cultura, classe, território e pertencimento. É o corpo que dita o quanto você “se cuida”, pertence e se está dentro ou fora do tal padrão (ilusório) e ideal.
No Brasil, o corpo tem voz. A bunda, por exemplo, não é só uma parte do corpo. Ela é símbolo. É centro de autoestima, de expressão, de confiança. Está na música, na dança, na moda e na TV, há décadas. E isso não vai mudar.
Essa tensão entre exaltação e controle vem de longa data. Para Lilia Schwarcz, a construção do Brasil como um país "do corpo" — sensual, mestiço, tropical — é também uma invenção política, uma narrativa que serviu para encobrir desigualdades estruturais e romantizar um passado violento. A valorização da aparência, nesse sentido, não nasce apenas do desejo, mas de um jogo histórico de poder e pertencimento.
Mas se isso não muda, o que se transforma?
O que pode (e deve) mudar é a forma como lidamos com esse símbolo: menos vulgarização, mais reconhecimento da sua potência cultural.
Criar relevância, portanto, exige mais do que traduzir tendências. Exige escutar o território, mapear comportamentos, ler nas entrelinhas do afeto e da falta. É aí que mora o diferencial estratégico de quem realmente entende de mercado - e de Brasil.
O papel da indústria: hype ou responsabilidade?
Durante um tempo, vimos marcas dizendo que todo corpo é bem-vindo. Mas quantas realmente sustentaram esse discurso? A influenciadora Lela Brandão discutiu bem essa questão no episódio “as pessoas querem que eu emagreça”, do seu podcast “Gostosas também choram”.
A verdade é que a “aceitação” foi tratada como campanha de lançamento e não como missão contínua por muitas marcas. A indústria preferiu entrar no assunto enquanto dava engajamento, gerava likes e boa visibilidade. Mas quando chegou a hora de educar, escutar e lidar com as contradições, muita gente sumiu do debate.
Mas corpos não são tendências. Corpos são histórias, símbolos e potências.
A indústria precisa entender que não é só sobre vender produtos para todos os corpos, mas sim sobre criar uma cultura de respeito, de acolhimento e de possibilidades reais.
E se a gente não desistir disso?
É fácil pensar que a conversa perdeu força. Mas a verdade é que ela nunca foi só hype, ela é uma necessidade.
Quando um movimento se sustenta apenas pelo apelo do hype, ele inevitavelmente falha. Porque hype não conecta - emociona, no máximo.
Falar de corpo e de representatividade exige muito mais do que uma boa campanha. A questão precisa ser tratada com a mesma seriedade com que tratamos fórmulas, ativos e lançamentos. Quando uma marca toca no tema com responsabilidade, ela sai da zona do discurso e entra no campo da cultura. A marca que entende isso passa a agir como uma mediadora entre o presente e o futuro possível.
Não dá pra terceirizar a responsabilidade da aceitação. É hora de criar com mais sensibilidade, escuta e continuidade.
Educar o consumidor é um compromisso, não uma fase. E, ao mesmo tempo, é preciso olhar para o que já é nosso. A cultura brasileira já tem seus próprios códigos de beleza. A bunda, por exemplo, sempre foi uma referência de poder e identidade.
O desafio não é negar isso, mas sim aprender a lidar com esse símbolo sem reduzi-lo à vulgaridade, sem desrespeitar sua história.
Aceitar é um verbo que não se conjuga sozinho
No fim do dia, aceitar o corpo é um ato de coragem. Mas também é um convite coletivo: para olhar com mais empatia, com mais contexto e com menos julgamento.
E a indústria tem um papel essencial nisso. Afinal, beleza que transforma não é a que dita regras, mas a que acompanha, escuta e traduz o que o corpo — e quem o habita — precisa dizer.
Por isso, criar produtos, narrativas e estratégias de beleza no Brasil exige mais do que sensibilidade estética: exige leitura de território e uma disposição real para compreender o corpo como campo simbólico e o consumo como comunicação. Criar para escutar, para acompanhar, para traduzir.
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Em tempos de medicalização e controle, falar sobre corpo exige mais do que tendências, exige coragem, escuta e contexto. Para quem trabalha com estratégia, comunicação e produto, entender essa profundidade do tema da beleza no Brasil não é só diferencial: é compromisso de quem quer criar com relevância cultural.
Gostaram? Vejo vocês na próxima edição!
Nossa expertise vai muito além de entregas pontuais. Queremos ser o braço direito e o esquerdo das marcas, construindo juntos uma visão mais consistente e profunda da beleza — que faça sentido hoje e ressoe no futuro.
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